O Brasil conquistou, finalmente, o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, após várias candidaturas frustradas. A primeira candidatura ocorreu para os Jogos de 1936, que não obteve nenhum voto, depois para os Jogos de 2004 e 2012. Além do ineditismo de sediar os Jogos pela primeira vez na América do Sul, o Rio de Janeiro será a terceira cidade a receber a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos em um prazo de dois anos. As outras cidades são México, que recebeu os Jogos em 1968 e o Mundial de 1970, e Munique com a Olimpíada em 1972 e a Copa de 1974. A importância dos Jogos Olímpicos não se resume ao espetáculo esportivo capaz de atrair bilhões de espectadores. Os Jogos celebram a convivência harmoniosa entre os povos, através da linguagem universal da beleza atlética e simbolizam um apelo à continuidade do processo civilizador.
A vitória brasileira sobre as cidades concorrentes, com reconhecido poderio econômico, desenvolvimento social e forte tradição cultural, Chicago, Tóquio e Madri, valorizou ainda mais a nossa conquista. Subimos ao pódio onde poucos acreditavam que essa façanha pudesse acontecer agora. Dentre os motivos que nos levaram à conquista destacam-se: o bom momento da economia brasileira e as garantias de investimento do governo, cerca de 29,5 bilhões de reais, o trabalho competente de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), do Ministro dos Esportes Orlando Silva e a perspectiva de descentralização sócio-geográfica, um passo importante para a universalização dos Jogos. Aspectos sentimentais, como a simpatia que os brasileiros despertam mundo afora também podem ter contribuído. Então deu Rio de Janeiro, Brasil. Nada mal para o “último país alegre do mundo”, na opinião do filósofo português Manoel Sérgio ou no dizer do sociólogo italiano Domenico De Masi – “em nenhum outro país do mundo a sensualidade, a oralidade, a alegria e a ‘inclusividade’ conseguem conviver numa síntese tão incandescente”.
Mal terminada a festa e passada a ressaca vamos retornar à realidade. “Sim, nós podemos”, essa é a frase do momento. Nós podemos mesmo? Se não fosse o prazo para a realização do evento, diria que fomos pegos de calça curta. Investimentos e infraestrutura à parte quero referir-me a nossa futura participação. Há tempo carecemos de uma política de esportes consistente, com objetivos claros e prioridades bem definidas. A finalidade primeira para uma nova política de esportes deveria consistir no fomento da cultura esportiva para toda a população, que possa se constituir em importante fator de desenvolvimento social. Talvez esse deva ser o principal legado das Olimpíadas 2016. Considero pouco provável que o desenvolvimento pleno de uma nação possa ocorrer sem investimentos na consolidação da cultura do esporte. Tornar-se uma potência olímpica não deveria ser prioridade, mas poderá ser a consequência natural de uma política bem conduzida. Além do esporte espetáculo, dirigido para potenciais consumidores, fomentar a cultura do esporte significa universalizar a prática esportiva, começando pela escola, a fim de assegurar a formação integral dos jovens e que atenda integralmente os preceitos constitucionais, que asseguram a prática esportiva como um direito de todos os cidadãos e a sua promoção um dever do Estado. A Constituição considera três manifestações do esporte a serem contempladas: o escolar, o de participação e o de rendimento.
Vale lembrar o estudo do IPEA sobre a eficiência da participação dos países nas Olimpíadas de Beijing, 2008. O Brasil obteve 3 medalhas de ouro, 4 de prata e 8 de bronze, mas de acordo com o nosso potencial, deveria ter conquistado 20 medalhas de ouro, 18 de prata e 26 de bronze. Dessa forma teríamos conquistado a 6ª. colocação e nao a 20ª no quadro de medalhas. A avaliação considera a riqueza econômica do país, o tamanho da população e a esperança de vida ao nascer. O estudo revela, enfim a discrepância entre viabilidade econômica e a efetividade da política de esporte.
A contagem regressiva já começou. Os atletas que representarão o Brasil já estão em atividade, a maioria tem entre 10 e 20 anos. Alguns nomes já são conhecidos e certamente representarão o país em 2016, outros serão revelados. Mãos à obra!
Fonte: Este artigo foi escrito pelo Professor Aldemir Teles
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